O próximo mês de setembro significa, para muitos, um novo começo. O regresso às aulas, ao trabalho, a volta à rotina após as férias. As ruas regressam à vida habitual, o comércio local reabre nos horários do costume e voltamos a uma rotina que, por mais intensa que seja, mantém-nos ligados a serviços úteis e a estabelecimentos que são parte integrante e facilitadora do nosso dia a dia.
No entanto, o sistema que mantém esta rede de suporte enfrenta, hoje, desafios novos e complexos que há dez anos achávamos impossíveis de existir. Hoje, fazemos compras em segundos pelo telemóvel, pagamos contas muitas vezes sem sair do sofá e esperamos encontrar experiências cada vez mais simples e práticas. Ainda assim, a internet não conseguiu retirar importância à confiança e à proximidade ao cliente - vendedor que só o comércio local consegue oferecer.
Preservar esta relação num mundo cada vez mais rápido e digital exige equilíbrio. A resposta não é rejeitar a tecnologia, mas usá-la a nosso favor, sem perdermos o toque humano que caracteriza este tipo de atendimento.
O comércio local é o coração que mantém o bairro vivo. Sobretudo no verão, seja a voltar à terra ou a ir para a casa de férias algures, sabemos que é no café da esquina que trocamos as primeiras palavras do dia, na mercearia que já nos conhecem pelo nome e na farmácia onde perguntam pela nossa avó. Isto tem valor e tem a sua magia. Estes pequenos locais de comércio criam memórias, têm rosto, voz e humanidade, e ajudam a criar laços que vão muito mais além da simples transação.
Para lá disso, são também objetivamente (e cada vez mais) pontos de serviço fundamentais, capazes de resolver em minutos tarefas mais aborrecidas do nosso quotidiano. É aqui que, afastados de ecrãs e dispositivos, compramos a raspadinha, fazemos o Euromilhões e levamos o jornal; pagamos faturas e fazemos pagamentos ao Estado, como o IUC, IMI ou mesmo IRS. É ali que podemos carregar o passe, conseguir bilhetes para espetáculos ou concertos, e encontrar vouchers para hotéis, voos, jogos ou plataformas de streaming. Tudo num só lugar – é já ali! -, pela cara de alguém que nos conhece e nos trata como se fossemos da casa, por vezes da sua família.
Porque o comércio local é muito mais que um ponto de venda, é uma infraestrutura de proximidade que sustenta a vida comunitária. Agora que nos aproximamos de um reencontro com a rotina de sempre, o meu apelo é para que não percamos este toque de humanidade quando necessitarmos de algo. Troquemos pagamentos e serviços, sim, mas com uma bica e um “como vai a vida?” à mistura. Apoiemos estes locais de comércio, tão necessários para a sustentabilidade da nossa economia.
No fim do dia, não nos lembramos de como pagámos, mas sim de quem nos atendeu, da forma como nos receberam e da confiança que sentimos. Isso, felizmente, continua a ser algo que duvido que alguma aplicação seja capaz de replicar.
In Vida Económica, ed. semanal impressa, de 12 de setembro de 2025
2025-10-03